segunda-feira, 26 de abril de 2010

S Gregório Nazianzeno (330-390), bispo, doutor da Igreja Do amor aos pobres, 8, 14

"Quando deres um banquete, convida os pobres"


Velemos pela saúde do nosso próximo com tanto cuidado como pela nossa, seja ele saudável ou desgastado pela doença. Porque "somos todos um no Senhor" (Ro 12,5), ricos ou pobres, escravos ou homens livres, sãos ou doentes. Para todos, há uma só cabeça, princípio de tudo - Cristo (Col 1,18); o que os membros do corpo são uns para os outros, é cada um de nós para cada um dos seus irmãos. Por isso, é preciso não negligenciar nem abandonar os que antes de nós caíram num estado de fraqueza que a todos nos espreita. Antes de nos regozijarmos por estar de boa saúde, mais vale compadecer-nos com as infelicidades dos nossos irmãos pobres... Eles são à imagem de Deus tal como nós somos e, apesar da sua aparente decadência, guardaram melhor do que nós a fidelidade a essa imagem. Neles o homem interior revestiu o próprio Cristo e eles receberam o mesmo "penhor do Espírito" (2Co 5,5); têm as mesmas leis, os mesmos mandamentos, as mesmas alianças, as mesmas assembléias, os mesmos mistérios, a mesma esperança. Cristo morreu também por eles, aquele "que tira o pecado do mundo" (Jo 1,29). Tomam parte da herança da vida celeste, eles que foram privados de muitos bens neste mundo. São companheiros dos sofrimentos de Cristo e sê-lo-ão na sua glória.

S Gregório de Naziance (330-390), bispo, doutor da igreja 14ª homilia sobre o amor aos pobres, 38.40

«Um pobre estava deitado à sua porta»

«Felizes os misericordiosos, diz o Senhor, pois alcançarão misericórdia.»
(Mt 5,7) A misericórdia não é a menor das bem-aventuranças: «Feliz o que
compreende o pobre e o fraco» e também: «o homem bom compadece-se e
partilha», ou ainda: «sempre o justo se compadece e empresta». Façamos,
pois nossa esta bem-aventurança: saibamos compreender, sejamos bons.Nem a
noite deve deter a tua misericórdia; «não digas: volta amanhã e logo te
darei» (Prov 3,28). Que não haja hesitação entre a tua primeira reacção e a
tua generosidade... «Partilha o teu pão com aquele que tem fome, recolhe em
tua casa o infeliz sem abrigo» (Is 58,7) e fá-lo de boa vontade. «Aquele
que exerce a misericórdia, diz S. Paulo, que o faça com alegria» (Rom
12,8).O teu mérito é redobrado pelo teu zelo; uma dádiva feita com
contrariedade e por obrigação não tem nem graça nem fulgor. É com um
coração em festa, não se lamentando, que se deve fazer o bem... «Então a
luz jorrará como a aurora, e as tuas forças não tardarão a restablecer-se»
( 58,8). Haverá alguém que não deseje a luz e a cura?...Por isso, servos de
Cristo, seus irmãos e seus co-herdeiros (Gal 4,7), sempre que tenhamos
oportunidade, visitemos Cristo, alimentemos Cristo, agasalhemos Cristo;
abriguemos Cristo, honremos Cristo (cf. Mt 25,31s). Não só sentando-o à
mesa, como alguns fizeram, ou cobrindo-o de perfumes, como Maria Madalena,
ou participando na sua sepultura, como Nicodemos... Nem com ouro, incenso e
mirra, como os magos... O Senhor do universo «quer a misericórdia e não o
sacrifício» (Mt 9,13), a nossa compaixão, mais que milhares de cordeiros
gordos (Miq 6,7). Apresentemos-lhe então a nossa misericórdia pela mão
desses infelizes que jazem hoje pela terra, para que, no dia em que
partirmos daqui, eles nos «conduzam à morada eterna» (Luc 16,9), ao próprio
Cristo, nosso Senhor.

Gregório Nazianzeno (330-390), bispo, doutor da Igreja Sermão n° 38, para a Natividade

«Tu, que maravilhosamente criaste o homem, mais maravilhosamente ainda restabeleceste a sua dignidade» (Oração colecta)

Jesus Cristo nasceu, rendei-lhe glória! Cristo desceu dos céus, correi para
ele! Cristo está sobre a terra, exaltai-o! “Cantai ao Senhor, terra
inteira. Alegria no céu; terra, exulta de alegria!” (Sl 96,1.11). Do céu,
ele vem habitar no meio dos homens; estremecei de temor e de alegria: de
temor, por causa do pecado; de alegria, por causa da nossa esperança.
Hoje, as sombras se dissipam e a luz se eleva sobre o mundo; como outrora
no Egipto envolto em trevas, hoje uma coluna de fogo ilumina Israel. O
povo, que estava sentado nas trevas da ignorância, contempla hoje essa
imensa luz do verdadeiro conhecimento porque “o mundo antigo desapareceu,
todas as coisas são novas” (2 Co 5,17). A letra recua, o espírito triunfa
(Rm 7,6); a prefiguração passa, a verdade aparece (Col 2,17).Aquele que
nos deu a existência quer também inundar-nos de felicidade; essa
felicidade que o pecado nos havia feito perder, a incarnação do Filho nos
devolve… Tal é esta solenidade: saudamos hoje a vinda de Deus ao meio dos
homens para que possamos, não chegar mas regressar para junto de Deus; a
fim de que nos despojemos do homem velho e nos revistamos do Homem novo
(Col 3,9), a fim de que, mortos em Adão, vivamos em Cristo (1 Co 15,22)…
Celebremos pois este dia, cheios de uma alegria divina, não mundana, mas
uma verdadeira alegria celeste. Que festa, este mistério de Cristo! Ele é
a minha plenitude, o meu novo nascimento.

São Gregório de Nazianzo (330-390), bispo, doutor da Igreja Discurso Teológico 4

Seguir o Cordeiro de Deus

Jesus é Filho do homem, por causa de Adão e por causa da Virgem, de quem
descende. […] É Cristo, o Ungido, por causa da sua divindade; esta
divindade é a unção da sua humanidade […], presença total dAquele que
assim O consagra. […] Ele é o caminho, porque é Ele quem nos conduz. Ele é
a Porta, porque nos introduz no Reino. Ele é o Pastor, porque conduz o seu
rebanho para as pastagens, e o leva a beber nas águas refrescantes; Ele
mostra o caminho a seguir e defende-o dos animais selvagens; Ele vai
buscar a ovelha errante, encontra a ovelha perdida, trata da ovelha
ferida, guarda as ovelhas que estão de boa saúde e, graças às palavras que
lhe inspira o seu saber de pastor, reúne-as no aprisco das alturas.Ele é
também a Ovelha, porque é a vítima. Ele é o Cordeiro, porque é sem mancha.
Ele é o Sumo-Sacerdote, porque oferece o sacrifício. Ele é Sacerdote da
ordem de Melquisedeque, porque não tem mãe no céu nem pai nem terra, não
tem genealogia nas alturas, porque – diz a Escritura – “quem contará a sua
geração?” E também é Melquisedeque porque é o Rei de Salém, o Rei da paz, o
Rei da justiça. […] Eis os nomes do Filho, Jesus Cristo “ontem, hoje, o
mesmo sempre”, corporal e espiritualmente, “e assim para sempre”. Ámen.

São Gregório Naziangeno (326-390)

Discurso de despedida

Chega-se assim, num clima de tensão, à sua demissão. Na catedral apinhada Gregório pronunciou um discurso de despedida com grande afecto e dignidade (cf Oratio 42: SC 384, 48-114). Concluía a sua fervorosa intervenção com estas palavras: "Adeus, grande cidade, amada por Cristo... Meus filhos, suplico-vos, guardai o depósito [da fé] que vos foi confiado (cf. 1 Tm 6, 20), recordai-vos dos meus sofrimentos (cf. Cl 4, 18). Que a graça do nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vós" (cf. Oratio 42, 27: SC 384, 112-114).