sexta-feira, 17 de junho de 2011

‘’Jesus de Nazaré, a sua causa e o seu Reino’’ é o que devemos buscar, afirma dom Pedro Casaldáliga

“Denunciar a iniqüidade do mercado total, do consumismo desenfreado, do lucro excluidor das maiorias. Fazer da Fé cristã luz e força para combater esse sistema de iniqüidade que mata de fome milhões de pessoas da grande família de Deus deve ser o papel da Igreja”. A afirmação é de dom Pedro Casaldáliga em entrevista ao blog Movimento Contra a Miséria – MCM, 15-06-2011.

--> A teologia da libertação teve um impacto no nosso país principalmente nas comunidades eclesiais de base, hoje ela encontra-se um pouco distante da juventude, você acredita que ela precisa de uma renovação para se tornar mais acessível aos jovens brasileiros?

"A renovação sempre é necessária e a Teologia da Libertação tem-se renovado constantemente, sobre tudo, assumindo mais explicitamente as identidades étnico-culturais e outras causas que num primeiro momento não eram destacadas: partiu-se da libertação socioeconômica e vem-se abrangendo cada vez mais a libertação integral, holística, da luta contra a fome à vivência da mística. Sempre a verdadeira renovação será voltar mais e mais a Jesus de Nazaré, a sua causa, que é o Reino".

--> Os movimentos que visam um Evangelho próspero, financeiramente falando, têm crescido significativamente na América Latina. Como você enxerga este acontecimento?

É só abrir o Evangelho de Jesus de Nazaré e escutar seu coração e sua palavra. Tudo o que seja dinheiro é suspeito. “Não podeis servir a dois senhores” A evangelização não deve procurar a prosperidade financeira da Igreja mas a partilha fraterna de todas as filhas e filhos de Deus. Não se deve optar pelo lucro, mas pelos pobres. Não é com a riqueza que a Igreja vai dar testemunho de Jesus. O Evangelho pede sobriedade, despojamento, a favor dessa Humanidade jogada à beira da estrada da exclusão. A Eucaristia é a mesa da partilha fraterna e sororal.

--> Qual deve ser a posição da Igreja latino americana na sociedade atual diante globalização, de um neoliberalismo que traz um discurso que materializou a felicidade e que a cada dia deixa mais ao margem os pobres?

A posição da nossa Igreja só pode ser de profecia que contesta o materialismo neoliberal e anuncia uma sociedade alternativa, esse Outro Mundo Possível que está sendo consigna de tantas pessoas e entidades em toda a Terra. Denunciar a iniqüidade do mercado total, do consumismo desenfreado, do lucro excluidor das maiorias. Fazer da Fé cristã luz e força para combater esse sistema de iniqüidade que mata de fome milhões de pessoas da grande família de Deus.

--> Como você imagina a construção de uma nova alternativa em relação ao sistema que vivemos hoje?

A construção de uma nova sociedade, alternativa à que é imposta hoje ao mundo, é um processo complexo, uma caminhada histórica, não tem uma cartilha pronta em detalhes dentro da plural humanidade. De todo jeito eu só posso imaginar esse processo como socializador: socializar a terra de lavoura e de moradia, socializar a saúde, a educação, a comunicação, as oportunidades para viver ‘o bem viver’ que proclamam os nossos povos primigênios.

--> Tenho a impressão que no nosso país as pessoas que lutam por justiça ainda são “crucificadas”, como no caso de Maria e José no Pará, ou Dorothy Stang há alguns anos, são casos de pessoas que avisaram o perigo que corriam, mas novamente nada foi feito ao respeito. A quais meios o povo pode recorrer ou está só nesta luta?

Sempre foi e sempre será um risco a entrega total da própria vida às grandes causas da justiça, da fraternidade, da paz. Nos, os cristãos, sabemos por que Jesus acabou crucificado. Ser profeta é facilmente ser mártir. Aqui, na Prelazia de São Félix do Araguaia, estamos celebrando nos dias 16 e 17 de julho a Romaria dos Mártires de Caminhada; milhares de irmãos e irmãs que foram dando a vida pelas causas do Reino de Deus; que continuam dando a vida, como Dorothy Stang, como o casal José Cláudio e Maria do Espírito Santo. Felizmente o próprio povo têm o seus profetas e, no meio desse sistema de morte que domina no mundo, há muita indignação, muita vitalidade alternativa, muita solidariedade; o bem está vencendo o mal; a vida e o amor, dons do Deus do Amor e da Vida, têm a palavra. Porque Deus é Amor, nós somos esperança. A Humanidade não está só, Deus é Deus conosco; sobre tudo com os pobres e com os lutadores. Essa fé, que é esperança, deve ser prática, luta, dia a dia; e deve-se traduzir em outro ‘poder’, ‘outra política’ verdadeiramente popular, sem corrupção, sem disparidades escandalosas, sem impunidade assassina.

Esta é parte da entrevista de um dos grandes profetas de nosso tempo: dom Pedro Casaldáliga.
A reportagem completa esta no site: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=44384